As Sete-Léguas
De Mystical Tales
Dizem os ventos do deserto, que no inverno de 589 as trouxeram de volta para mãos dos homens. E foi em uma ronda dos soldados Al'kadins, que naqueles anos patrulhavam o deserto dia e noite a noticiar e defender sua terra da Praga Pútrida. Eram três jovens, dois guerreiros e um arqueiro.
Annisf, o mais novo dos três, estava arrancando as garras de um Kith morto pelas flechas do preciso Bershnnif. Era fim do dia e os ventos já estavam trazendo o frio das areias, e foi na simples rotina da vida que a natureza revelou o que eu demorei anos para encontrar. A primeira mal começou a refletir o sol, que brilhava longe, e já foi golpeada pela espada de Annisf, todo assustado, achando o par de Botas fosse um escorpião gigante. Rápido e burro, tudo que o garoto provocou com o golpe foram risadas de Gollnniskar, que sempre zombava do garoto. Risadas que foram interrompidas quando este também se encantou com o brilho que as intactas Botas refletiam.
Dos que já tiveram o deslumbramento de ver as Sete-Léguas, só se houve descrições de sua formidável cor, que muda a cada terreno que pisa. Mas não foi isso que os três Al'kadins viram a princípio, naquele instante a bota era toda couro marrom, mas não era nenhum couro que eles já haviam visto: Parecia pegar fogo, mas era tão gelada como a neve das Montanhas do Norte e, ao mesmo tempo que parecia velha e desgasta, era bela como o mais lindo vestido já criado. Bershnnif foi o primeiro a calçar. Empolgado, amarrou com satisfação o par, Annisf tentou exclamar que ele é quem havia achado, mas uma bofetada de Gollnniskar foi o suficiente para calar-se. Os três voltaram ao batalhão orgulhosos do achado, e não demorou a todo acampamento se enfeitiçar com abeleza das Botas. Já era noite, e dizem que quando a luz do sol pára de refletir nas botas, elas refletem ao sol sua própria luz.
Jamais haverá de cansar,
A multidão fará sorrir
Assim que O Par calçar
Mas se assim preferir,
Pode apreciar ela flutuar!”
Eram o que os três declamavam ao tentar vender as botas por quatro douradas aos colegas de guerra. Tolos, Se soubessem que a luz eterna é a mais simples das proezas desse artefato, e ainda que as botas levitarem é mal sinal a quem as têm, não a teriam entregue felizes por duas moedas e três lhamas.
Mas foi tudo que o gordo do Stanul precisou para ganhar seu novo produto especial. Seria a atração da próxima feira! O alvo das maiores barganhas! O Artefato que acabaria com todas as pragas de Hellfar! Ao menos era isso o que seus bardos gritavam pelas estradas rumo ao norte.
“Essas botas são um maldição!” Foi a última frase de Stanul, antes de ser degolado pelos saqueadores. Ao menos foi isso que ela me disse. Sim, elas podem ser uma maldição, mas também uma benção. Não somos nós que a usamos, mas o contrário. Tudo que as Sete-Léguas querem é caminhar, desbravar novas terras. Stanul viajava muito, mas sempre com suas banhas atoladas na suas carroça, as Botas querem o sabor da terra, o cheiro do sangue e a velocidade dos ventos.
E era num saqueador que elas viram o que precisavam. E foi por isso que ele não conseguiu tirar os olhos delas enquanto o chefe do grupo dividia o saque. As Botas tem o poder de fazer tolos apaixonarem-se por elas, pena não poderem fazer o contrário... Cimitarra, o líder do grupo, estava encantado pelo par, tanto quanto seu mercenário. Notando isso, tomou-as para si rapidamente, se recolheu a sua cabana e ordenou que seus homens fizessem o mesmo. Foi sua última ordem da noite... Da vida. A fogueira ainda ardia em brasas quando Cimitarra foi degolado, seu grito esganido ecoou pelas assustadoras florestas negras e acordou todos os ladrões dali. Mas nem o mais rápido dos ladinos poderia ser tão veloz quanto as Botas correndo na floresta. Elas brilhavam um azul tão belo quanto as cachoeiras élficas, Ginn corria como se não houvessem obstáculos. E realmente não haviam, as botas correm por si mesmas, são elas que fazem nossos passos.
Mal iniciava a primavera, e as histórias já ecoavam pelo sul de Hellfar. Como um raio, andarilhos e mercantes eram mortos e pilhados na estrada. Dizia-se que era a besta de olhos azuis em busca de mais brilho, que eram os Deuses castigando os homens, mas sabemos que eram apenas os melhores dias da vida de Ginn. Entretanto, as Botas têm sua própria consciência, e decidiram que Ginn era um problema em uma terra já com tantas mortes, e elas mesmas fizeram o fim do jovem sanguinário. Ele foi encontrado na estrada, com muito ouro, bem vestido, descalço.
Elas não me disseram como ele realmente morreu, mas eu vi seu corpo no chão, vi sua cara inconformada com a morte e vi muitas coisas que ele roubou em sua volta também.
As Botas... Bom, cansaram de passear por hora e voltaram para casa. Sei o quanto elas gostam do calor da fogueira e das brincadeiras com os esquilos. Ah, claro! Um lembrete, se um dia você resolver calçá-las, não se esqueça que nunca deve amarrar os cordões, deixe elas mesmas o fazerem, se assim preferirem.