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Winstan

De Mystical Tales

Edição feita às 23h09min de 6 de novembro de 2009 por Sangji (disc | contribs)

Aqui, escrevo uma história do qual ouvi há algum tempo atrás.

(Obs: Esse conto não tem nenhum intuito de participar do concurso de melhor Contos e Lendas, pois este só foi posto para a diversão dos leitores, além do que devem ter contos melhores que este.

Agradeço, Sangji)


Capt.1 No qual conhecemos a Vila da Parede e as coisas estranhas que lá acontecem a cada nove anos

Era uma vez um jovem que queria conquistar o Desejo de seu Coração.

Mas, como acontece em todo começo, e isso não é inteiramente novo(toda história sobre todo jovem que já foi ou será contada poderia começar da mesma forma), há muitas coisas estranhas sobre esse jovem e sobre o que se passou com ele, apesar de nem ele mesmo conhecer todos os fatos.

A história começou, como muitas outras, na Parede.

A Vila da Parede localiza-se no planalto de granito no meio de um bosque, o mesmo lugar onde esteve nos últimos seicentos anos. As casas do vilarejo são quadradas e antigas, construídas com pedras cinzentas, tetos escuros e altas chaminés; aproveitando cada centímetro do espaço na pedra, as casas se espremem umas contra as outras; aqui e ali, um arbusto ou árvore crece ao lado de uma construção.

Há uma estrada que leva à Vila da Parede, um caminho sinuoso pavimentado com pedras e cascalhos, que entra bosque adentro. Muito depois da floresta, o caminho se transforma em uma verdadeira estrada cheia de animais e bichos, que correm de uma floresta à outra.

Os habitantes da Vila da Parede são taciurnos, de dois tipos distintos: o nativo dali é tão cinzento, alto e atacarracado quanto o granito sobre o qual a cidade foi construída. Os outros são aqueles que adotaram a Vila da Parede como lar há vários anos, além de seus decendentes.

No lado oeste da Vila da Parede fica o bosque; ao sul há um lago de aparência plácida que engana, servido pelos riachos que descem da colina por trás do vilarejo, ao norte. Há campos acima das colinas, nos quais pastam as ovelhas. Ao leste, há mais bosques.

Logo a leste da Vila da Parede existe uma parede grande, alta e cinzenta, do qual o vilarejo tira seu nome. Essa parede é antiga, construída por blocos quadrados e toscos de granito; ele surge de dentro do bosque e, no final, volta para o mesmo lugar.

Só existe uma passagem na parede: uma abertura de quase dois metros de largura, ao lado da vila. Atráves dessa passagem, é possível avistar um prado bem verde; além do prado, um riacho e, além deste, árvores. De vez em quando, formas e figuras são vistas, entre as árvores, a distância. Formas grandes e estranhas, além de coisinhas tênues que piscam, brilham e depois somem.

Até hoje, dois moradores ficam de vigia na passagem, um de cada lado, revezando-se em turnos de oito horas. Carregam pesados porretes de madeira e cuidam da abertura do lado do vilarejo.

Sua principal função é evitar que as crianças passem pela abertura em direção ao prado e além dele. Ocasionalmente, precisam desencorajar um andarilho solitário ou um dos poucos dos visitantes da cidade a cruzar a passagem.

As crianças, é só ameaçar com o porrete. Já em relação aos andarilhos e visitantes, precisma ser mais criativos; só recorrem à força física em último caso, quando as histórias da grama récem-plantada ou de um perigoso touro solto não são suficientes.

É raro, mas às vezes chega à Vila da Parede alguém que sabe o que procura; essas pessoas ocasionalmente recebem permissão de passar. Elas carregam um brilho no olhar que, uma vez detectado, é inequívoco.

A guarda relaxa uma vez a cada nove anos, no dia Primeiro de Maio, quando acontece uma feira no prado.

Os eventos que seguem aconteceram há muitos anos.

Muita gente chegou aquelas bandas naquela primavera. As pessoas vinham sozinhas ou em duplas, desembarcadas em alguma doca: homens e mulheres com a pele branca como papel, de pele escura como rochas vulcânicas, de pele cor de canela, falando uma grande variedade de línguas. Vinham durante o mês de abril e viajavam de caravanas, cavalos ou carroças. Muitos chegavam caminhando.

Na época, Unstand Tharn tinha dezoito anos e não era nem um pouco romântico.

Tinha cabelos e olhos castanho-claros. Era um tanto alto e falava pouco. Tinha um sorriso fácil, que iluminava seu rosto. E ele sonhava. Enquanto trabalhava na terra de seu pai, sonhava em deixar a Vila da Parede, com todo seu charme imprevisível, para ir à outros lugares onde nada dependesse da direção do vento. Ele trabalhava na fazenda do pai e não possuía nada, só uma pequena cabana bem afastada, presenteada pela família.

Visitantes chegariam até a Vila da Parede naquele mês de abril, e Unstand não gostava muito daquela idéia. A hospedaria do senhor Vromios, A sétima Ave, que normalmente era um labirinto de quartos vazios, estava cheio havia uma semana, e os forasteiros já tinham começado a alugar quartos nas fazendas e casas do vilarejo, pagando pelo alojamento com moedas estranhas, ervas e especiarias e até pedras preciosas.

Com a aproximação da feiram a atmosfera de expectativa crescia. As pessoas acordavam mais cedo, contando os dias e os minutos. Os guardas no portão, ao lado da parede, viviam impacientes e nervosos. Figuras e sombras moviam-se por entre as árvores no limite do prado.

N'a Sétima Ave, Bridget Cofrey, considerada a serviçal mais linda que já existiu, provocava conflitos entre Tommy Foster, com quem fora vista no ano anterior, e um homem enorme de olhos escuros, que carregava um macaco pequeno e barulhento. O homem quase não falava comum, mas sorria de forma expressiva sempre que Bridget passava.

No balcão do bar, os moradores acomodavam-se muito perto dos visitantes e conversavam:

- É só a cada nove anos.

- Dizem que antigamente era todo ano, no verão.

- Pergunte ao Senhor Vromios. Ele sabe.

O senhor Vromios era alto e tinha a pele cor de oliva; seu cabelo escuro era encaracolado, bem curto; tinha olhos verdes. Quando as meninas da vila viravam mulheres, logo se interessavam por ele, que nunca correspondia.

Diziam que ele chegara à vila havia um tempo, como visitante. Mas acabou ficando por lá; e seu vinho era bom, corcordavam os locais.

Uma discussão explodiu no salão entre Tommy Foster e o homem de olhos escuros, cujo nome parecia ser Alum Bey.

- Alguém os separe! Em nome do céu! Parem com isso! - Gritava Bridget. - Eles vão lutar por minha causa! - Ela sacudia a cabeça em um gesto lindo: a luz das lanternas à óleo ressaltava seus cachos dourados perfeitos.

Ninguém fez menção de separar os homens, apesar de varias pessaos, tanto moradores quando récem-chegados, terem saído para assistir

Tommy Foster tirou a camisa e levantou os punhos. O estranho riu, cuspiu no chão e agarrou a mão direita de tommy, jogando-o no chão, o queixo na poeira. Tommy ficou de pé e correu em direção ao estranho. Golpeou o rosto do homem, mas logo foi parar de novo com a cara na sujeira, o rosto arranhado pelo pó, sem folêgo. Alum Bey riu e disse algo em outra língua.

Tão rápido e tão fácil, a luta tinha acabado.

Alum Bey subiu em cima de Tommy Foster e se exibiu para Bridget Cofrey, fazendo uma mesura e sorrindo com dentes brilhantes.

Bridget o ignorou e correu até Tommy:

- Por quê? O que ele fez para você, meu amor? - perguntava enquanto limpava a sujeira do rosto dele com o avental e dizia palavras carinhosas.

Alum Bey oltou com os espectadores para o salão da hospedaria e fez a cortesia de oferecer uma garrafa de bebida do senhor Vromios para Tommy Foster, quando este retornou. Nenhum dos dois sabia dizer muito bem quem tinha vencido, quem tinha perdido.

Unstand Tharn não estava n' A Sétima Ave naquela tarde; era um sujeito prático que passara os seis meses anteriores cortejando Daise Hampstock, uma jovem também muito prática. Durante as tardes, passeavam pela ila e discutiam a teoria da rotação do cultivo, o clima e outros assuntos práticos; e, nessas caminhadas, nas quais eram invariavelmente acompanhados pela mãe e pela irmã mais nova de Daise, a uns bons seis passos atrás deles, costumavam, de vez em quando, trocar olhares apaixonados.

Na porta da casa dos Hampstock, Unstand parava, fazia uma saudação e se despedia.

Daise Hampstock entrava em casa, tirava o chápeu e dizia:

- Eu queria muito que o senhor Tharn se decidisse a me pedir em casamento. Tenho certeza de que papai não se oporia.

- Na verdade, tenho certeza de que não - disse a mãe de Daise naquela tarde, como dizia toda tarde, enquanto tirava o chápeu e as luvas. Em seguida, conduziu as filhas até a sala de estar, onde um senhor muito alto com longa barba negra estava sentando, mexendo em sua mala. Daise, a mãe e a irmã fizeram uma reverência para o senhor(que falava pouco inglês e tinha chegado alguns dias antes). O visitante temporário, por sua vez, levnatou-se e as comprimentou.

Fazia frio naquele mês de abril, mas a primavera comportava-se sempre de maneira estranha mesmo.

Os visitantes chegavam pela floresta; tomavam os quartos dos hóspedes, dormiam nos estábulos. Alguns armavam tendas coloridas; outros chegavam em suas próprias caravanas, com enormes cavalos cinzentos ou pequenos pôneis.

Na floresta, um tapete de flores cobria o chão.

Na manhã de 29 de abril, Unstand Tharn e Tommy Foster ficaram de guarda na passagem do muro. Cada um tomou um lado da abertura, esperando.

Unstand já ficara de guarda muitas vezes antes, mas, até então, o único trabalho fora espantar algumas crianças.

Naquele dia ele se sentia importante; segurava um porrete de madeira e, quando algum estrangeiro tentava atravessar o muro, ele ou Tommy diziam: "Amanhã, amanhã. Ninguem pode passar hoje, senhores".

E os estranhos recuavam um pouco e espiavam através da passagem no muro o prado desprentensioso do outro lado e as árvores comuns que pontilhavam o campo junto à floresta, sem grandes atrativos por trás delas. Alguns tentavam conversar com Unstand ou Tommy, mas os jovens, orgulhosos da posição de guardas, evitavam a conversa, contentando-se em levantar a cabeça, apertar os lábios e, em geral, fazer pose de importante.

Na hora do almoço, Daise Hamptock trouxe um prato de torta de carne com batatas e legumes para os dois e Bridget Cofrey, um pouco de cerveja picante.

E, ao final do dia, outros dois jovem do vilarejo chegaram, carregando uma lanterna cada um, e Tommy e Unstand caminharam até a hospedaria, onde o senhor Vromios deu a cada um deles uma caneca da melhor cereja como recompensa por terem feito a guarda. Ouvia-se um burburinho de animação na hospedaria, agora totalmente cheia. Estava lotada de visitantes de todas as raças, ou pelo menos assim parecia a Unstand, que não tinha nenhuma noção de distância entre bosques que rodeavam a Vila da Parede. Por isso ele olhava para o homem com uma cartola negra, sentado na mesa ao lado, com a mesma surpresa que seria ao olhar para o senhor alto e negro vestindo uma bata branca com quem o outro jantava.

Unstand sabia que era rude ficar olhando e que, como um dos moradores da Vila da Parede, tinha todo o direito de se sentir superior a todos os istrangeros. Mas sentia cheiros estranhos no ar e ouvia homens e mulheres conersando em centenas de línguas. Olhava abobado para eles, sem sentir vergonha.

O homem de cartola negra percebeu que Unstand estava olhando para ele e se voltou para o rapaz:

- Você gosta de pudim? - perguntou, de repente, como forma de iniciar uma conversa. - Mutanabbi precisa ir embora e há mais pudim do que um homem é capaz de comer sozinho.

Unstand aceitou. O cheiro de pudim era convidativo.

- Muito bem - disse o novo amigo. - Pode se servir.

Ele passou um prato de porcelana limpo e uma colher para Unstand. O rapaz não precisou de mais incentivo nenhum, e, juntos, os dois acabaram o pudim.

- Agora, meu jovem - disse o homem para Unstand, depois que os pratos e a bandeja com o pudim estavam quase vazios -, parece que a hospedaria está cheia; além disso, todos os quartos da vila que podiam ser alugados já foram.

- Verdade? - perguntou Unstand, sem surpresa.

- É verdade - respondeu o homem. - E eu estava aqui pensando se você por acaso não conhece uma casa que possa ter um quarto disponível?

Unstand deu de ombros.

- Todos os quartos estão ocupados agora - disse. - Lembro que, quando eu era garoto, tinha uns nove anos, minha mãe e meu pai me mandaram dormir nas vigas do estábulo, por uma semana, e deixaram meu quarto para uma senhora, sua família e seus criados. Ela me deu uma pipa como agradecimento, e eu a empinava no campo, até que um dia ela se soltou e voou para o céu.

- Onde você mora agora? - perguntou o homem.

- Tenho uma cabana perto das terras de meu pai - respondeu Unstand. - Era a cabana do nosso pastor, até que ele morreu, dois anos atrás, durante uma festa, e eles deram para mim.

- Leve-me até lá- disse o cavalheiro, e Unstand nem pensou em recusar.

A lua da primavera estava alta e brilhante, iluminando a noite. SAíram do vilarejo e desceram pela floresta, passando pela fazenda da família Tharn(onde o cavalheiro se assustou com uma vaca que dormia no pasto e roncava enquanto sonhava) até chegarem à cabana de Unstand.

Tinha só um aposento e uma lareira. O estrangeiro aprovou:

- Gosto do lugar - comentou. - Então, Unstand Tharn, quero alugá-la pelos próximos três dias.

- O que vai me dar em troca?

- Uma moeda de ouro, uma moeda de prata, uma moeda de bronze e algumas pedras preciosas.

Uma moeda de ouro por duas noites era mais do que justo naquela época em que um fazendeiro ficava feliz se conseguisse ganhar quinze libras em um bom ano.

Ainda assim, Unstand hesitou:

- Se veio por causa do mercado - disse ao homem -, então deve negociar com milagres e maravilhas.

O homem alto concordou:

- Então, está atrás de milagres e maravilhas, certo? - Ele olhou ao redor, examinando a cabana de Unstand.

Naquele instante começou a chover e ouviu-se o som das gotas batendo no telhado de palha acima deles.

- Oh, muito bem - disse o cavalheiro alto, irritado. - Um milagre, uma maravilha. Amanhã, você vai encontrar o Desejo de seu Coração. Agora, aqui está o dinheiro - e tirou as moedas da orelha de Unstand, com um gesto simples. Unstand testou as moedas contra o ferro da porta, para ter certeza que era dinheiro de verdade, depois cumprimentou o valaheiro e saiu na chuva. Amarrou o dinheiro em um lenço.

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