Certeiro, o arco de Mannsh
De Mystical Tales
Mannsh Ribbil fora um grande arqueiro de Lúmenor. Em sua juventude era o melhor caçador da região de Drinshan, e nas batalhas de Silatorm chegou a líderar os arqueiros, isso ainda aos seus 16 anos. Sua infância em Drinshan foi marcada pela convivência em um grupo de fervorosos cultuadores de Melian, crença que levou consigo quando seguiu para a grande cidade de Lúmen, em 473.
Nessa época completava seus vinte anos, mas já ia como um grande soldado para fortalecer as forças do Rei Emmeran II nas campanhas expancionistas. O jovem passou a visitar freqüentemente o templo de Melian, deusa muito cultuada pelo povo de Lúmen. Mannsh dizia que seu arco, batizado de “Certeiro”, era uma arma abençoada entregue em suas mãos pela própia Deusa, para que com tal arma ele fizesse o trabalho árduo e livrasse Hellfar daqueles que o mal traziam e se recusavam a admitir seus pecados. Certeiro era uma bela arma, “toda banhada d’ouro sagrado de Melian, e jamais a deixarei ser capturada”, segundo as palavras do próprio Mannsh.
Sir Ribbil era orgulhoso de fabricar suas próprias flechas, com madeira comprada das florestas de Drinshan, que ele dizia serem as melhores madeiras para se criar uma flecha letal. Uma madeira de cor muito viva, que ele deixava ainda mais bela ao juntar com penas amareladas. Em meio ano de trabalho com o reino, ele já estava no cargo de Capitão do 3º Batalhão de Artilharia, e era dito que “Nunca se haverá de encontrar duas flechas amarelas em um mesmo defunto, pois Sir Ribbil jamais precisará de um segundo disparo.”, frase que está gravada na sua lápide, que fica no grande cemitério da Capital.
Mas até uma vida de inegável devoção pode ser marcada pelo pecado do prazer, e a missão de Mannsh estava fadada a fracassar justamente no templo de Melian. Ele retornara de uma bem sucedida campanha contra mortos-vivos na região de Nephil, e logo que seus homens entraram em Lúmen foram dispensados para beberem e comemorarem, ele, entretanto, foi diretamente ao templo agradecer a vitória de sua última jornada. Ao pisar no primeiro degrau, viu a maior deslumbração de sua vida; o brilho da lua entrava amarelado pela janela, e iluminava a mais bela moça que um homem poderia ver. Ela estava sentada sobre o altar, seminua e sorrindo à Mannsh, era Ela.
E numa mistura de lágrimas fervorosas e amor carnal, a própria Melian se entregou ao Capitão.
Ribbil acordou de seu êxtase quando o sol já estava todo formado nos céus. Se encontrava ainda no chão do Templo, com um sorriso bobo, todo despido. Mal acabou de botar sua roupa de guerra, que jazia espalhada pelo templo, e sentiu a dor rasgante em seu peito, agarrou a flecha que atravessava seu coração. Uma belíssima flecha dourada, uma das que ele mesmo havia feito. Agora suas lágrimas eram de indignção, olhou para a porta e viu a contraluz um homem ainda segurando o arco em pose de disparo, que falou com um sorriso sarcástico: “Obrigado por tê-lo me dado em mãos, Capitão. Já que eu realmente nunca poderia capturá-lo.” E assim, Yarret botou o arco nas costas e desceu a escadaria rumo a multidão de Lúmen.
Agora o teto do Templo que olhava não parecia o mesmo que ele vira a vida inteira. Em seu corpo, não sentia mais a bênção da Deusa. Mannsh havia se deixado enganar pelas ilusões de Yarret, e o preço por seu erro foi morrer no lugar que tanto amou, segurando a flecha que fez para trazer a paz com o sangue dos impuros.
Yarret não ficou com Certeiro, dizem que o deixou no templo dos cavaleiros de Mond, e que muito sangue foi jorrado naquela tarde. Seguidores de deusas tão parecidas morreram se enfrentando em pleno centro da Capital, em uma bela tarde ensolarada, enquanto duas deusas choravam nos céus, e outro gargalhava na terra.