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Uma Noite em Khallibar

De Mystical Tales

Edição feita às 18h46min de 25 de setembro de 2009 por Duffbeer (disc | contribs)

Primeira Parte

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Era outono de 808, passavam-se treze luares desde que desatracamos do porto de Kalesh, havíamos avançado pouco, mas a embarcação estava pesada. O Capitão Zannk havia calculado bem os suprimentos, sabia que deveria levar mais que o normal para a viagem, pois éramos poucos homens e isso faria o barco velejar vagarosamente e os marujos suarem mais que o de costume. Ele só não havia calculado que o Boina ia beber a cidra de três dias em apenas uma madrugada de chuva e que, depois disto, iria fazer as tripas do jovem Bilbal enfeitarem o tabuado da embarcação.

Eu estava lá, mas Bilbal também não me descia bem, e até abri um sorriso ao ver acena, mas quando aquele negro, que nunca soube o nome, foi pra cima do bêbado e também foi esfaqueado, comecei a ver que estávamos com sérios problemas. Nos encontrávamos no meio do Siudelik, éramos oito marujos, mais o capitão e cinco guerreiros bem armados, além de 7 cavalos; Bilbal nos fez ficar com apenas cinco pares de braços, pois todos sabiam que o Capitão iria jogá-lo ao mar assim acabasse de descer as escadas, o que fazia naquele exato momento, num ritmo frenético de pisadas. 440px Fiquei com raiva de Boina, não por nos deixar na merda no meio do mar, mas por ter me feito sair da minha rede e ir lá fora, na chuva. Tudo porque o Capitão fazia questão de nos mostrar o que era feito com os marujos imbecis. Ah! E para nos afundar mais ainda no estrume, toda a cidra foi cortada. E quando eu digo “toda”, digo a dos marujos, claro. Pois aqueles cinco homens passavam o dia bebendo com o capitão. Ninguém sabia muito bem quem eram, mas o gagá do Zettil me disse que já os havia visto, que eram poderosos homens de Drinshan. Poderosos ou não, se queriam sair vivos iam ter que pegar nos remos com nós, ao menos até o capitão achar uma solução.

Aquela noite eu dormi bem, encontrei a moringa que fez três homens morrerem. Se encontrava deitada e silenciosa no canto dos quartos, e a bebi rápido, bebi até parar de sentir o frio. E foi a última noite que dormi sorrindo naquela viagem.

Cap. Zannk nos acordou gritando, sua cara pálida deixava visível que ele mal tinha dormido, mas ao menos ele tinha uma nova rota, rumamos para o leste. Eu não fazia idéia do que ele estava querendo com aquilo, nos enfiar no meio de Nephil, talvez.

Foram apenas quatro dias até chegarmos. Sempre com três dos guerreiros remando com nós, que revezavam em turnos, mas suas braçadas eram tão ruins quanto a comida de do porto de Kalesh. Eu não sei como o Capitão sabia daquilo, mas nos deparamos com porto, um porto decente. E o mais incrível era que esse porto era acompanhado por toda uma cidade. Uma cidade feia, diga-se de passagem, mas era uma cidade no meio do Siudelik! Claro que eu já ouvi histórias de cidades piratas, como também ouvi lendas de navios engolidos por uma serpente gigantesca. Mas aquilo era real, e era uma cidade em terra firme, grande, bem cuidada, uma cidade Al'Kadin. Nos meus sofridos dezessete anos, achava que Al'Kadins não tinham reino, nem cidade, nem nada. Para mim não passavam de refugiados que estavam se enfiando em nossas terras como formigas.

Obviamente eu estava enganado. Atracamos ali, ao menos estávamos tentando. Para mim, nossa chegada foi como se tivéssemos gritado àquela gente que iríamos matar eles, queimar toda aquela cidade de madeira, mijar em seus corpos estripados e depois passar o resto do dia nos divertindo com suas mulheres. Nossa embarcação, o Dourado IV, estava a uns 700 passos quando o porto começou a reluzir a metal. Tinha uma parede de escudos para nos receber, e atrás devia ter o dobro de homens com flechas mirando nossa vela, que apesar da distância razoável, estavam somente esperando alguma ordem para acendê-las e nos fazer tostar como um pernil na fogueira.

300pxEu já estava visando onde ia me esconder quando o inferno começasse, mas o Capitão parecia não se importar em virar um pernil assado. Aquele insano gritava para remarmos a toda velocidade em direção ao suicídio. Ele era um homem esperto, eu sabia disso, mas faltou pouco para eu pegar meu remo e atravessar naquele seu nariz torto. Mas eu também sabia que isso, com toda certeza, era uma morte mais temível que enfrentar aquele porto inteiro.

Mas eles não atiraram, se não vocês não estariam ouvindo essa história, mas ainda lembro que a cada remada eu fechava os olhos e via Ferid sorrindo para mim. De repente, para o alívio de todos nós, Capitão ordenou que parássemos os remos e assoprou um chifre, gerando um barulho que deve ter ecoado até Kaldrind. A resposta não demorou a vir, um som parecido veio do porto, mas isso não foi o suficiente para desfazer aquela parede que nos fitava. Recebi um tabefe na lateral dos pensamentos, não ouvi a ordem para voltar a remar. Não sei se estava surdo do som dos chifres ou se estava imaginando o que ia dizer a Ferid, mas acordei para o mundo e cumpri a ordem até que chegarmos perto o suficiente para arremessar as cordas ao porto. Ninguém falava nada, apenas trocávamos olhares assustados, e os Deuses deviam estar nos assistindo de seus palácios, podia até se sentir o cheiro de sangue no vento, como se das alturas já se visse o desfecho daquele inusitado encontro.

Até que o único homem montado que eu podia ver ali falou, só mais tarde da noite descobri que era o Mohinder, e sua voz era forte e assustadora, assim como sua aparência. Perguntou algo sobre quem éramos e o porquê estávamos ali. Zannk respondeu em um tom de voz parecido com o que falava com quando nos dava suas ordens. Berrou que éramos comerciantes de Kalesh e estávamos em apuros, o que não era mentira, mas também não era toda a verdade. Ficou um pequeno período de silêncio enquanto o cavaleiro falava com alguns homens próximos a ele. Depois de acabada a conversa, ouviu-se ordens e a parede da morte se desfez, vagarosamente, e os que a formavam desapareceram cidade adentro.

O capitão foi autorizado a descer, conversou brevemente com aquele que mandava ali. Em seguida seguimos ele...

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