Introdução
De Mystical Tales
- Sintam. – Gritou o homem. – A marcha dos exércitos divinos. O tremor que precede o fim de nossas vidas. Ajoelhem-se aqueles que regozijam a piedade de nossos senhores divinos.
Ninguém sabia ao certo que ele era, ou do que estava falando, a vida continuava a mesma em Luyaran, ou o que sobrou de Luyaran. Os mesmos problemas, os mesmos inimigos, nada além do caos a que todos haviam se acostumado.
- Os infiéis jamais entraram no reino dos deuses. – O homem continuou a gritar diante da casa de trabalhos de Bel-Luna, alguns poucos pararam para assistir o discurso apocalíptico, não pareciam se importar, mas a loucura daquele homem os divertia.
- Prepare-se, o sangue fervente de Luna verterá dos céus, livrando-nos dos fracos de espírito, ouçam a batalha. As Luas Irmãs finalmente se digladiam, os deuses descontentes não nos perdoaram.
Incomodados com toda aquela balburdia alguns guardas do Imperador se prontificaram a retirar o louco das ruas, quando se aproximaram o homem sacou de sua adaga, causando o espanto do pÚblico que o ouvia, os guardas se entreolharam, não teriam o menor problema para derrubar aquele baderneiro. Mas a voz rouca daquele homem invadiu o espírito dos guardas, que se hesitaram, dando tempo para que ele terminasse.
- O que é a Fé? – Perguntou, com sua face oculta sob o capuz roxo. - Apenas a crença religiosa, a confiança de que algo o vigia, protege, ou não, uma das grandes virtudes que guiam a existência humana, ou seja, ela qual for. Aquilo que nos impulsiona a dar um passo, sem saber o que nos espera no horizonte?
Houve uma pequena pausa, naquele momento o discurso inflamado deixou de ser engraçado. Aqueles que se divertiam com a situação sentiram o sangue gelar em suas veias.
- Pode ser que sim, mas como podemos confirmar algo que pode se manifestar de tantas maneiras diferentes, às vezes no mesmo indivíduo. – Lentamente ele baixou sua adaga. – Provavelmente eu não consiga explicar para vocês, meus bons conterrâneos o que significa a Fé, mas posso lhes afirmar que será a Fé, ou melhor, a falta de Fé, que destruirá o mundo que nós conhecemos.
Todos já haviam ouvido o bastante, prontamente os guardas avançaram sobre o homem, mas num gesto rápido e certeiro o mensageiro de um futuro tão funesto cortou a própria garganta, o povo assistiu, uns horrorizados, outros com prazer, a vida daquele homem esvaecer.